sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Conheci


Conheci uma mulher.
Quando eu digo que conheci eu apenas tive a impressão de que a conhecia a muito tempo. Devia ter vinte  seis ou vinte sete anos. Na verdade eu sabia que era mais nova, é que ela estava triste.
 Os grandes olhos verdes estavam menores atrás das pálpebras inchadas. Com a avermelhada boca pediu uma cerveja enquanto eu estava sentada lendo. Fechei o livro e disse que estava na primeira geladeira.
Com o telefone na mão disse que ia se adiantar e ficou no balcão olhando pra mim depois para os cigarros. Ia morrer de qualquer jeito, então pediu um marlboro maço.
Desligou-se de mim novamente e perguntou qual a história do "Menino do dedo verde" (livro).
(...) Um menino rico, filho do único dono de uma fábrica de canhões e armamentos ...Conseguiu parar uma guerra com flores. Disse eu pensativa.
Acabei quebrando segundos de silêncio dizendo:
"Ele descobriu que tinha o dedo mágico pelo jardineiro e amigo que trabalhava na mansão de sua família."
Ela mais tranquila do que quando entrou disse que havia entendido com a frase "o jardineiro é uma  pessoa  sensível."
 Ela em algum lugar do mundo e eu com o livro na mão, garganta seca e os olhos cheios de água acabara de ler que o jardineiro havia morrido.
 Se ao menos ela soubesse que essas palavras se encaixaram com o que estava passando na minha cabeça, talvez ela daria um sorriso.
Quem é sensível reconhece sensibilidade e entre os três últimos copos continuou parada como quem tem algo a dizer. Eu também.
"Quem é você ? O que você faz ? O que gosta e o que não gosta? Porque ao invés de olhar não  diz alguma coisa ?" Enquanto eu pensava e continuava a fuçar o abridor de garrafas.
Eu tinha plena certeza de alguma coisa, sem ao menos saber que coisa. Abri a boca e não passou de um "você gosta de ler?"
"É uma forma de ficar sozinha"  disse séria. Eu emendei a frase dizendo que são várias sensações dependendo do livro e que uma delas é se encontrar e as vezes se perder.
Pela primeira vez eu a vi com um sorriso quase aberto.
Mas os fleches dos seus olhos não correspondiam aos mistérios dos seus lábios. O dia que naquele momento parecia distante, já não reconhecia nem se quer um olhar.
É que no quarto copo e último gole encostou os dedos na boca mandando beijo dizendo "tudo de bom".
"Pra você também"  . Disse eu atenta aos olhos verdes com traços chorosos...




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